10 de jun. de 2007

Um Silêncio Temporariamente Ininterrupto

E quando o tempo passa
E você não se toca?
E quando as águas correm
E você não se molha?
E quando você não permite
Que nada ultrapasse a superfície?

De repente, uma frase que vem de fora,
Entra suave e me faz toda a diferença.
De repente, cai a ficha de que o mais esperto
Está longe de ser eu, e que eu o me imaginava.

O passado vem à tona e a certeza
De que um movimento a menos
Teria feito toda a diferença
Faz surgir voraz o arrependimento
E a vontade insensata de voltar o tempo.

E cada ação gerou uma cadeia de reações,
Como é natural e de se esperar.
E para cada reação, de mim partiu uma agressão.
E como resposta a cada uma destas:
Lágrimas, desencanto e afastamento.
E de mim, como réplica, cegueira e surdez.
Solidão...

Agora, pela primeira vez,
Me amarga o arrependimento,
Que bate de frente com a convicção
De que tudo deve ser dito e feito.
E a dor se revela imensurável.

Depois de toda a insensatez dita e feita,
O que resta é me calar e me congelar
Ou abrir os olhos, ouvidos e alma,
Me permitindo ao que vem de fora.

O tempo não volta, o tempo não pára,
O tempo não chora, o tempo sequer olha.
E uma voz no vento resiste na noite,
Fazendo com que tudo pare.

Por você, por mim, por nós,
O plausível agora é que eu me entregue
A um silêncio temporariamente ininterrupto,
Até que a dor passe e eu tenha aprendido
Como bate um coração partido
E que seja relembrado o que foi esquecido.

Gustavo Lacerda

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