Era uma vez um relógio
que girava e girava
por horas e mais horas
antes de sentir saudade.
Tinha saudade, rara saudade,
que sentia com o ponteiro dos segundos;
outras com o ponteiro dos minutos
- era involuntário;
ora agia, ora seguia, ora nem atinava.
Não que fosse frio
ou que não quisesse
ou que não amasse:
_ apenas vivia tão imerso ao tempo,
que sequer notava - exceto por alguns minutos
- a existência do tempo
e o fato de que muitas horas
formam muitos dias
e daí por diante.
Gustavo Lacerda