17 de jun. de 2007

O Outro Lado da Rua (Aquele que nunca chegou...)

Íris vermelhas, lábios cor de sangue, sorriso branco como a neve. Semblante plácido, postura comedida, ar recatado. Atitudes respeitosas... mas isso é o que você vê e não o que de fato é.

Meio que se esconde. Ajeita os cabelos sobre os olhos. Um sorriso leve de satisfação com seus pensamentos – que ninguém vê. Acende um cigarro e se distraí: o mundo é só dela. Sentada ali, sozinha, como uma esfinge, misteriosa e convidativa. “Decifra-me”.

A chamam Hilda, mas há quem diga ser outro seu nome. De seus traços e trejeitos demasiados femininos, há também quem desconfie. Surgiu! Simplesmente surgiu, como que sem algo que precedesse esse presente que intriga quem a observa. Inspira uma idéia de futuro duvidoso. Inspira certa aflição... desejo.

O olhar desconcertante. Impossível manter contato visual por mais de três segundos. Rostos ruborizados por onde ela passa. Cansada daquele balcão de bar, se levanta e dá alguns passos em direção a saída. Uma mulher elegante. Movimentos firmes, fria e distante. Antes que alcançasse a porta, um velho quadro chama sua atenção a meia luz do ambiente enevoado.

Não era algo emoldurado, era um quadro vivo. Pessoas sentadas, umas sorrindo acompanhadas e outras vazias e solitárias. Em seus olhos, para quem naquele momento a olhasse, vestígios de passado. Virou-se, saiu e atravessou a rua distraída, entorpecida, sem olhar. Não viu mais nada. E a cor de sangue de seus lábios tomara o asfalto.


Gustavo Lacerda e Felipe Lucas
*** Café Kahlua – 12/05/2006

2 comentários:

Fripe disse...

Meus pedaços, seus pedaços, nossas histórias!
Fico até sem palavras...
Aniversário tão feliz!
E tão bom estar com gente q eu gosto tanto!
Afff...
Cretino...
Sei q vc não pode me ver agora, mas eu to chorando!

=*

Jéfi disse...

sempre que leio o nome Hilda penso em algo trágico. não sei por que, mas as Hildas são todas assim na minha imaginação, trágicas, dramáticas, tristes, e belas. o próprio quadro no texto era ela, quem sabe, às vistas de todas aquelas pessoas. depois tornou-se quadro de novo, na tela de asfalto.

=]