O meu mundo é outro.
Não é o mesmo deles
E também não é o mesmo daqueles.
O meu mundo é meu,
E o máximo que posso é conceder
Não mais que uma fatia,
Com gosto e cheiro de tempo.
O meu mundo é meu
E eu pertenço ao meu mundo.
Porém, do tempo, eu só tenho o cheiro,
Que conservo em minha boca,
O divido em fatias e lhe concedo uma
Através da qual você há de imaginar um gosto
O tempo não tem cheiro
O tempo não tem gosto
O tempo é como a água em um rio
Que segue seu curso ininterruptamente
O tempo não mente e não tem pretensões.
Se seu mundo deixa de ser seu,
Também deixa você de pertencer a si
E passa a pertencer ao mundo de outrem.
Inexiste aquele que perde seu mundo,
E viver não passa de vagar a deriva do tempo,
Que consome como que somente quer matar a fome.
O tempo não tem cheiro.
O tempo não tem gosto.
Mas o tempo tem fome
E ele consome quem não tem seu próprio mundo.
O meu mundo é meu
E eu pertenço ao meu mundo.
Porém, do tempo, eu mesmo só tenho o cheiro,
Que conservo em minha boca
E que, mesmo assim, me foge em baforadas
A cada tragada no meu marlboro light.
Meu mundo e eu somos um do outro,
Mas o tempo é solitário e senhor de si.