10 de jun. de 2007

Isabela

Um interminável mar de cachos negros
Sobrepondo a força de venenosos lábios rubros.
A finita luz de olhos íris cor de mel,
Ofuscada pela altivez de um nariz de arranha-céu.

A lenda viva de um corpo esplendido.
O marasmo sórdido desta carcaça mórbida (sob)
A metamorfose orgástica de seu corpo coberto sendo descoberto.

Desejo, volúpia e todo seu gracejo, traquejo,
Em seu modo sutilmente sexual de se mover,
Em seus sorrisos delicadamente dedicados a sedução,
Em suas viradas metódicas e atenciosamente indiferentes.

Cada fio de seus cabelos tirados, sem se mover, do lugar
Pela baforada morna imprópria para o verão,
Mas que caminha solta nas vielas por esta estação,
Não deixando de causar comedida e conformada indignação
No que diz respeito àquelas coisas do coração.

Aguardo sentado o momento de seu toque,
O instante em que ficarei em estado choque
Com seus lábios em meio a meus cabelos num beijo,
Enquanto deliro entre seus furtivos seios.

Vai além do que é um mero corpo,
Diferente deste velho e enrugado estorvo,
Que aguarda inquieto o improvável retorno
Da juventude levada entre as garras de um corvo.

A atuação do tempo na pele e na carne é voraz,
Assim como essa insaciável fomenta por ti é atroz
E puramente ilusória a proximidade entre nós.

Me afogo entre seus cabelos negros,
Me enveneno na miragem sangrenta de seus lábios,
Me cego ao mirar, mesmo de longe, seus olhos

E me perco nas alturas, sentindo bem próximo de mim o céu.


Gustavo A. Lacerda

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