3 de abr. de 2012

Perca-se na Solidão

Quanto melhor o aproveitamento das oportunidades que a vida dá para que abra sua mente, com maior clareza você enxergará o mundo e as verdades ocultas das pessoas. No entanto, quanto maior for essa abertura, mais distante você ficará de encontrar compreensão de seus pensamentos e sentimentos por parte dos outros.

Você entende o mundo, mas é como se, por mais que verdadeiramente quisessem, as pessoas que querem seu bem não pudessem te entender.


Penso que esse é o único momento doloroso da solidão: quando se anseia por ser compreendido e há quem queira, mas não há quem consiga compreender a profundidade de seus sentimentos - nesses momentos, a solidão é quase sufocante.


Ainda assim, penso que nem por um segundo deve-se permitir a ocorrência do desejo de não ter se dado à vida ao ponto de adquirir essa abertura que nos pode lançar à solidão asfixiante.


Asfixie-se! Sufoque-se! Sem arrependimentos, sem autopiedade, sem amargura, sem endurecimento, sem conflitos maniqueístas com o próprio ego. Sem alterego...


Perca-se na solidão, pois é justamente nesse momento que estará totalmente diante de si e capaz de conhecer mais um pedaço obscuro de sua alma... e de trazer luz a esse pedaço... e não se angustiar novamente pela mesma razão - envolver-se novamente sim, mas sem perder o ar.

Gustavo Lacerda.

2 de abr. de 2012

Desfecho

Minha boca lateja com meus batimentos cardíacos.
Minha pele arde em febre pelos excessos.

Meu estômago embrulha, tenta expulsar seus restos,

Que ferozmente engoli, sem mastigar,

Depois de quase delicadamente despedaçar

E, um a um, até o limite do meu prazer, seus membros esmagar.


Na memória, seu sorriso avassalador,

O ultimo antes de desfigura-lo,

Antes de transformar cada gesto seu em dor.


Nas minhas unhas a sensação inesquecível

De sua carne sendo perfurada, rasgada.

Nos ouvidos, seus gemidos, cada grunhido

Ensopado em sangue e terror.


No carpete, o vermelho coagulado

Do sangue que nunca será lavado.


Estou no que vem depois do auge,

Do clímax, do ápice, do desespero.

Estou a beira do desfecho

E você está apenas ridiculamente morto, deletado.

Gustavo Lacerda.