11 de set. de 2008

Sobre as Decepções

Tereza entrou pela porta do apartamento e encontrou a sala quase vazia – já espera por isso. Havia lixo e sujeira pelo chão. Virou-se para a direita e entrou na cozinha; acendeu a luz e encontrou mais bagunça – esperava por bem mais. Caminhou até o quarto, acendeu a luz e mais sujeira, bagunça e uns troços pelo chão.

__ Que bagunça! – suspirou.

Largou a bolsa sobre a cama e começou a arrumar. Correu até a cozinha e colocou água pra ferver. Voltou para o quarto e continuou a arrumação. Sentiu falta de algumas peças de roupa e de alguns objetos seus – “Puto!”, esbravejou. Oi até a cozinha novamente e despejou o conteúdo de um pacote na água fervente; mexeu por alguns minutos e estava pronto o canjão. Sentou-se na sala e comeu rapidamente. Voltou para a cozinha e notou que restara apenas uma xícara das suas e que a garrafa de café havia sumido – “Afe! Mas até isso?!”, perguntou para as paredes.

Continuou a arrumação. Terminou no quarto e foi pra sala. Arrumou a sala. Terminou tudo. Voltou para o quarto, colocou “Sia” no som, assentou a janela, acendeu um cigarro – fumava cigarros pretos de cravo – e tragou fundo.

__ Toda decepção é sempre previsível, mas o limite, às vezes, é invisível. – falou com a brisa morna que entrava pela janela – Há quem tenha vocação para ser decepcionante. – sorriu consigo e com a cidade adormecendo sob seus olhos.

A Cidade estava sonolenta.

__ Prefiro me decepcionar! – riu mais um pouco e tragou o cigarro – Sinal de que acreditei até o fim, e que vivi o que queria viver, e que fui o que precisava ser. O bom é que passou, como tudo sempre passa!

Tereza não se importava com a sujeira deixada e com seus bens levados. Preferia assim. A sujeira pode ser limpa – havia uma vassoura. Os bens podiam ser repostos – havia dinheiro.

__ Semana que vem, vou comprar coisinhas novas e vou decorar meu apartamento! Vai ficar lindinho, bem do jeito que eu sempre quis... daí, vou chamar alguns amigos para um café, mas amigos de verdade apenas. Gosto assim.

O cigarro acabou. Tirou a roupa. Apagou a luz. Se deitou sem banho e sem roupa. Sorriu novamente e, antes de adormecer, cochichou com o edredom:

__ Gostaria de um dia não me decepcionar. Mas se para viver intensamente tiver sempre que ser assim, então me decepcionarei muitas vezes na minha vida! Mas nunca, nunca, nunca.... Nunca! Nunca deixarei de viver cada momento importante, cada paixão, cada café e cada cigarro intensamente.

A janela ficara aberta. Tereza dormira feliz, por que o passado havia passado, e o presente lhe sorria... havia gente nova.

4 comentários:

Anônimo disse...
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Willian Lins disse...
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ana. disse...
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Unknown disse...
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