18 de jul. de 2011

O Poço

Não me importo com suas escolhas.
Não me volto para medir teus passos.
Não me interessam as pedras da sua estrada
E nem com quantas ou quais delas revestira as paredes do teu poço.

O mundo não gira por ninguém,
Mas todos giram, rodam e são arremessados por ele.
O tempo não corre para todos,
Mas todos correm atrás dele, atrás de alguma coisa,
De qualquer coisa que traga algum conforto,
Alguma verdade mesmo que baseada em mentiras
Vertiginosamente apaixonantes e que estimulem o movimento
Que promove o maior salto que se pode dar: para fora da cama!

Acorda! Levanta! Anda! Corre! Clama!

Não escolha descer a escada de espelhos,
Pois teu peso quebra cada degrau
E teu sangue se perde nos estilhaços,
No espaço, no escuro, no esquecimento,
Que é primeiro teu e depois sobre ti.

Não deixe-se levar por teus reflexos
No chão, nas paredes, no teto,
Por quê, o que é você, você não vê,
E, se teu sangue se esvai na escuridão,
Ninguém mais haverá de lhe enxergar,
Pois, ao fim dessa cortante e ao mesmo tempo anestesiante escada,
Aguarda-lhe a escuridão do poço do isolamento,
Onde não chega luz para sequer um lamento.

Não descarto as exceções fustigadas pela vida,
Mas é certo que cada um cava com as próprias unhas
O buraco que acredita caber sua existência,
Sua ineficiência em encarar os fatos e aos outros,
Sua falta de coragem e força para dar e perder mais que receber.

Sua carne se desprenderá de teus dedos
E dará vida morta a terra fria das paredes do buraco.

A estrada da vida é feita de pedras,
E, se você escolhe arranca-las para revestir o buraco,
Faça-o de olhos bem abertos a ponto de notar
Que, ao fim deste trabalho, estará no fundo de um poço.

De coração, espero que o bom senso torne-se teu amigo
Durante a profunda primeira escalada de volta ao topo.

A primeira escalada é consciente e até divertida.
Você sabe bem onde está e tem forças nos braços,
Você reconhece cada centímetro da subida.
Mas atenção: recolha e reencarne o que há por trás das pedras,
Pois são pedaços de sua vida e não podem permanecer emparedados.

Se você não recolhe e reencarna a si teus pedaços,
Ao descer a escada do esquecimento e retornar ao fundo do poço,
Não terá mais tanto o que perder na nova escalada.

Pode até ser que suas mãos se desfaçam,
E teu corpo desmorone do meio do caminho,
Rumo ao fundo, rumo ao nada.

Gustavo Lacerda.

Nenhum comentário: