23 de jun. de 2009

Sobre o Amor, o Tempo e os Trombamentos

Não sei mais falar de amor.

Não sei mais namorar.

Evito trombamentos que me façam apaixonar,

E dou meia volta diante de encantamentos.


A magia da carne somada,

Inevitável e nada sutilmente,

A voluptuosa carência afetiva.


Palavras descompromissadas ditas do nada,

Formando frases aterradoras e sedutoras,

Que promovem sentimentos densos,

Nascidos do que a mente idealiza

E não do coração propriamente dito.


A sutileza da prostituição afetiva,

Tendenciada pela carência de quem não tem tempo

E se vê encurralado, na verdade condicionado,

A sentir e agir de forma superficial.


Um esbarrão torna-se um drink.

Um drink torna-se uma conversa intimista.

Uma conversa intimista torna-se um beijo.

Um beijo torna-se uma transa.

Uma transa torna-se uma avassaladora paixão.

Uma avassaladora paixão torna-se uma desoladora rotina.

Uma desoladora rotina torna-se um desencantamento.

Um desencantamento torna-se um estimulo a uma nova busca.

Uma nova busca termina em um esbarrão.


No pouco tempo que se tem, tudo acontece muito rápido,

De forma que a substância dificilmente é exposta ou experimentada.


No pouco tempo que se tem,

A troca deve ocorrer rapidamente,

A picada deve ser superficial,

De forma que a agulha não atravesse a pele,

E, se acaso atravesse, não perfure a veia.


No pouco tempo que se tem,

Deve-se ter convicção no descolamento dos ideais,

De forma que se esteja permanentemente aberto,

Pronto para o que der e vier,

Porém sem se envolver demais,

Guardando sempre energia para outras possibilidades,

Oportunidades de novas trocas.


Não sei falar do que não vejo,

E o que vejo é a falta do tempo,

Do afeto substancial e dos ideais.

O que vejo é uma grande vontade de sentir,

Entrelaçada com uma profunda preguiça de amar!


Não sei mais falar de amor,

Pois o amor mudou de cor.

Reinventaram até mesmo seu sabor!


Assim como não sei mais falar de amor,

Pelo fato de o meu destoar das aspirações modernas,

Não sei também namorar.

Não somente molhando os pés na superfície!

Não sem mergulhar de corpo e alma!


Não sei mais falar de amor,

Não com o tempo que se tem para tanto.

Se é para falar de amor,

Que seja por uma noite inteira.

Se é para namorar,

Que seja para se apaixonar todos os dias,

Que seja por uma vida inteira!


Se for para ser, que seja!

Mas que seja sem se preocupar com o tempo.


Gustavo Lacerda

Um comentário:

Victor Charlier disse...
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