Não sei mais falar de amor.
Não sei mais namorar.
Evito trombamentos que me façam apaixonar,
E dou meia volta diante de encantamentos.
A magia da carne somada,
Inevitável e nada sutilmente,
A voluptuosa carência afetiva.
Palavras descompromissadas ditas do nada,
Formando frases aterradoras e sedutoras,
Que promovem sentimentos densos,
Nascidos do que a mente idealiza
E não do coração propriamente dito.
A sutileza da prostituição afetiva,
Tendenciada pela carência de quem não tem tempo
E se vê encurralado, na verdade condicionado,
A sentir e agir de forma superficial.
Um esbarrão torna-se um drink.
Um drink torna-se uma conversa intimista.
Uma conversa intimista torna-se um beijo.
Um beijo torna-se uma transa.
Uma transa torna-se uma avassaladora paixão.
Uma avassaladora paixão torna-se uma desoladora rotina.
Uma desoladora rotina torna-se um desencantamento.
Um desencantamento torna-se um estimulo a uma nova busca.
Uma nova busca termina em um esbarrão.
No pouco tempo que se tem, tudo acontece muito rápido,
De forma que a substância dificilmente é exposta ou experimentada.
No pouco tempo que se tem,
A troca deve ocorrer rapidamente,
A picada deve ser superficial,
De forma que a agulha não atravesse a pele,
E, se acaso atravesse, não perfure a veia.
No pouco tempo que se tem,
Deve-se ter convicção no descolamento dos ideais,
De forma que se esteja permanentemente aberto,
Pronto para o que der e vier,
Porém sem se envolver demais,
Guardando sempre energia para outras possibilidades,
Oportunidades de novas trocas.
Não sei falar do que não vejo,
E o que vejo é a falta do tempo,
Do afeto substancial e dos ideais.
O que vejo é uma grande vontade de sentir,
Entrelaçada com uma profunda preguiça de amar!
Não sei mais falar de amor,
Pois o amor mudou de cor.
Reinventaram até mesmo seu sabor!
Assim como não sei mais falar de amor,
Pelo fato de o meu destoar das aspirações modernas,
Não sei também namorar.
Não somente molhando os pés na superfície!
Não sem mergulhar de corpo e alma!
Não sei mais falar de amor,
Não com o tempo que se tem para tanto.
Se é para falar de amor,
Que seja por uma noite inteira.
Se é para namorar,
Que seja para se apaixonar todos os dias,
Que seja por uma vida inteira!
Se for para ser, que seja!
Mas que seja sem se preocupar com o tempo.
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