4 de jul. de 2007

Mais Um Preto No Asfalto

Em volta da cabeça negra,
Uma poça cor-de-vinho
Jorrava e se misturava ao asfalto sujo,
Sujando de vermelho a roupa branca de um homem sozinho.

Olhos e olhares o cercavam.
Os pensamentos sobre ele ecoavam,
E a curiosidade carniceira fedia,
Mas para ajudá-lo ninguém nada fazia!

O sentimento público era singular.
O que havia era um interesse mórbido,
De apenas, de braços cruzados, perguntar,
O que é filho de um costume brasileiramente sórdido.

O sangue gritava,
O corpo inteiro tremia e pulava,
A pele molhada brilhava,
O negro marginal silenciosamente urrava.

Ninguém se preocupava com “aquilo”!
Era apenas mais um preto no asfalto!
Provavelmente fora atropelado da polícia fugindo.
Provavelmente estava em fuga após um assalto.

E a multidão crescia,
Mas ajuda alguma aparecia.
E o sangue negro pela rua escorria,
E um rapaz, com uma senhora, espiava e ria.

A blusa vermelha era branca.
O jeans azul estava velho e surrado.
Sua dor inconsciente era franca!
Se o motorista o visse a tempo, acho que não teria parado.

A policia chegou!
E disse que o crioulo nada roubou,
Mas que estava certo quem o atropelou,
Pois ele deveria ter olhado quando a rua atravessou.

Atravessou correndo para pegar o ônibus.
Ia embora depois de um longo e pesado dia.
Corria para ver os meninos e a Maria.

Disseram que à mão levava uma marmita,
Mas que voou com o baque e sumiu na rua.
Sua expressão era alegre, porém aflita.
Coitado! Não sabia que desgraça seria a sua!

Tinha até pensado num agrado pra morena...
O dinheiro era pouco... Que pena!
Ela já ficava feliz com as palavras,
Aquelas que ele punha em cena.

Tudo ia acabar na cama,
Mas agora a desgraça é quem declama,
Depois de desenrolar sua trama
Jogando a felicidade alheia na lama.

Ele ainda respirava,
Mas o gambé lhe jogara um jornal na cara,
E gritou que tudo acabara!

Aquilo não fora nada!
Com o ônibus, foram todos embora.
Assisto o noticiário, e nada se fala.
Todos que viram, já se esqueceram a essa hora.
Apenas Maria, com os meninos, é que chora,
E reza pra Deus, pedindo que também a ela leve agora!

Não era importante, pois não tinha um salário alto,
E vivia uma vida que da vida era um salto!
Enfim, “aquilo” era só mais um preto no asfalto!


Gustavo A. Lacerda

Um comentário:

Ari Kellerman disse...

rapaz... aceita uma fã?!
=D

sou a amiga da maira, te conheci no confessionario... nao sei se vai lembrar... mas é q vc escreve tao bem, tao suave... qse indescritível!

Abraços!!!
=]