Ela suspira, e sua voz ecoa pelos quatro cantos da noite.
Ela é um pássaro, um bicho solto no ar, difícil de ser visto
daqui.
Ela é a lua, varia de noite para noite e, as vezes, surge
opaca no seu céu.
Ela é dispensável, temporária, porém marcante.
Ela pode e se deixa tocar – basta estender as mãos.
Ela move as engrenagens do próprio mundo e,
involuntariamente, massifica seus hábitos.
Ela ri alto, ela grita, ela chora, ela se suja.
Ela é um conto, uma fábula, é poesia, é daqui, porém dali.
Ela é antagonista, anti-heroína, facilmente confundida
com a vilã.
O preto dela é ácido, justo, corrosivo e corroído pelas
estações.
Ela dá seus tiros para, depois de entorpecida, perguntar
o que nem quer saber.
Ela não quer respostas prontas.
Ela brinca de roleta russa na própria nuca.
Ela é ativista de suas convicções.
Você grita, e ninguém te ouve nem no raio de dois metros.
Você deixa seu quase invisível rastro viscoso por aí.
Você é o Sol, caloroso, necessário, seguro de si, o mesmo
de ontem.
Você é necessário, constante, mortal.
Você não pode ser tocado, por que arde.
Você é uma engrenagem, o bolo antes de ir ao forno.
Você é um típico cavalheiro, limpo e sem olheiras; seu
sorriso é amarelo.
Você é novela, é drama, um romance policial que passa no
horário nobre.
Você é o primeiro a aparecer na trama – bonito, rico e
com cara de mocinho.
Sua camiseta é pólo ou gola “V”, com listras – duas ou
três cores, as da estação.
Você finge, com o dedo, ter uma arma debaixo da blusa e obtém
suas respostas.
Você faz as perguntas certas.
Você não atravessa uma rua sem olhar duas vezes para os
dois lados.
Você encontra seus pontos de vista na voz de gente que
morreu de tanto viver.
Ela é kiwi e você é banana.
Ela come na praça 7 e você gosta dos talheres bem
posicionados.
Ela só sai pra se foder e você dorme cedo.
Ela é irresistivelmente agridoce e você é simplesmente
doce.
Ela vive o que sente e você racionaliza o sentimento.
Ela vira 4 ou 5 com o mesmo sorriso e você se contorce na
primeira.
Ela te controla depois da nona e você se esquece de si na
terceira ou quarta.
Ela trepa pelos múltiplos orgasmos e você morre depois da
primeira ou segunda gozada.
Ela gosta de você como você é.
Você tem receio de ser visto com ela,
Mas você tem medo de ser visto até mesmo consigo.
Ela é Tereza e, apenas seu nome, bastaria para defini-la.
Já você é... quem é você mesmo?
Enfim...
No seu lugar, ela riria de mim na maior naturalidade.
Mas receio que você se sinta confrontado.
Veja bem: releia-me – isso não passa de pseudo-poesia – é
fake.
Ela é nada além de si, além de mim, além do que “você”
pensa ser.
Gustavo Lacerda.
Um comentário:
Postar um comentário